quinta-feira, 30 de junho de 2011

GRITOS DE REVOLTA, BAR DA LOIRA –JD. ELIZA MARIA, ZONA NORTE - 25/06/2011


Flyer da bagassa! E foto que é bom, nada...


Como já havia dito em alguma postagem anterior, o Jardim Eliza Maria é o templo Punk da zona norte. É o bairro que viu nascer e crescer a história da melhor banda do Brasil na minha opinião, a banda Esgoto. Banda que esteve á frente de eventos memoráveis como Caminhão do Tonhão (que virou até música da eterna banda Revoltados), onde bandas desengonçadas tocavam desengonçadamente na carroceria de um caminhão igualmente desengonçado, enquanto o povo fechava a rua pogando e assistindo as bandas e o bar do Zezé em frente faturava e garantia as cervejas pra galera. Havia também o Bar do Fubá, que por dois anos abrigou vários eventos que eram de lei entre 2005 e 2007, com presença maciça e garantida da galera que nos saudosos tempos de porta de galeria se juntavam na praça do correio e pegavam o busão pra subir este simpático morrão, o mais Punk do Brasil. Aliás, o bar do fubá era famoso também pelo caldinho de feijão que era o elixir da larica dos punks... por 1 real se provava desta iguaria em uma dose generosa de 200 ML e bem quentinho, podendo ser engrossado por farinha de mandioca e pimenta! Bons tempos e deu até água na boca só de lembrar.

Com tudo isso de importância, seria realmente uma mancada este bairro ficar de fora do mapa punk de São Paulo, certo? Pois bem, Após o fim do Bar do Fubá, ainda em 2007 o Chega Mais bar, numa rua paralela á Rua Manoel Aquilino dos Santos, a rua onde tudo acontece, recebeu uma gig com bandas do Rio de Janeiro. alguns meses depois,já em 2008, o bar da Loira (Que atende pelo nome de Daivan) teve sua estreia com inclusive um show da pé sujus. Ficou um tempinho sem rolar som, umm rockinho aqui, outro ali... Mas do fim do ano passado pra cá, foi decidido: O bar da Loira é a bola da vez no Eliza maria no que diz respeito ao Punk Rock. E, no ultimo sábado, foi minha vez de voltar no aconchegante buteco com o pé sujus após três anos. De fato, em dezembro passado já estava ali com a peça “Um minuto para o Caos”, mas nesta Gig que vou resenhar depois desta encheção de linguiça sem fim, teve um significado especialíssimo para estarmos ali tocando. Não só a singularidade do local, que conta com a participação não só dos que curtem um rock, mas dos vizinhos, das crianças, dos “Vileiros”, todos na mais perfeita harmonia e espírito de confraternização. Além de claro, ser a consolidação da amizade que tenho com a Banda Esgoto, uma relação de mais de 7 anos de parceria, um indo tocar na quebrada do outro e se encontrando pelas gigs, Uma amizade que posso sim chamar de Verdadeira e sem nenhum contratempo. Por mais que alguns pregos que querem minha cabeça declarem que o Eliza maria é “Pico deles”, É sempre um prazer estar ali. E ai deles se tentarem fazer algo ali. Como diria o ratos de porão, em épocas que eles ainda pisavam no que foi tema da música que vou citar, “Tudo acontece na periferia”.

Lá vai eu então encerrar o expediente de sábado da minha modesta loja aqui no meu idolatrado salve salve-se quem puder Itaim Paulista e aguardar o melhor horário para pegar o trem sentado na pracinha dos rockeiros e dos fashion-gays (Beijo meninos/meninas pois é sinal de modernidade – mas minha mãe não pode ficar sabendo), bebendo uma indispensável “Bolinha” (corotinho) de maçã quando uns amigos que há muito tempo não via chegaram por lá com mais pinga e sedentos por um rolê. Detalhe: eles eram da época do Bar do Fubá, do Caminhão do Tonhão... foi a deixa perfeita para que chamasse-os para o rolê. E proposta aceita, por volta das 20:30 fomos para a estação de trem aguardar pelo velho de guerra e fiel escudeiro de rockeiragem sabugo! Descemos na estação de Trem do Bairro do Ermelino Matarazzo para esperar o baixista Punkelo e outros punks que nos acompanhariam á este épico trajeto de mais de três horas. O desgraçado atrasa em 40 minutos, mas enfim chega e rumamos ao Brás, onde o Guitarrista Cesar também fez o favor de atrasar. Mas o que importa era que o trajeto estava andando, devagar mas indo, regado á muita catuaba selvagem e 51 com coca cola, evocando o espírito moralista do Brasileiro, da senhora que pergunta onde vai parar nossa juventude, mas teve um filho sem pai conhecido aos 16 anos e fuma 3 maços de cigarro por dia e ainda despreza os mendigos os chamando de cracudos, e do Senhor distinto e de respeito que jura que tomar um goró na juventude é coisa de quem não tem o que fazer e acha que deveríamos pegar na enxada, enquanto ele olha babando pra bunda da Morena que está de pé próximo ao seu rosto.

Após chegar em Santana e pegar o ônibus em direção ao som, mais uma viagem longa nos esperava. Mas milagrosamente o trajeto foi curto, o ônibus foi rápido e o trânsito não estava carregado. Nesse Ínterim, o Baterista Chu me ligava de 5 em 5 minutos repetindo o mantra do Burro do Shrek: “Tá chegando?”, “Ta chegando?”

Descemos no ponto do Eliza Maria e ainda caminhamos uns 10 minutos até chegar no bar pelas ruas sobe e desce, estreitas e com visão panorâmica (uma linda visão de São Paulo á noite é proporcionada dali), eis que quando chegamos no buteco, o chu já se encontrava sentado na bateria. Sim, era nossa vez! Os cumprimentos aos presentes conhecidos seria dado diretamente no microfone. E recebo a terrível notícia: Odio Social já tinha tocado. Perdi. Meeeeeerda!

Ajusta aqui, pede o baixo emprestado dali, e prontamente começamos nosso repertório do Pé Sujus: A mesma coisa de sempre, as mesmas músicas, só que com um toque a mais de peso e agressividade. Afinal, ironizando umas pessoas presentes que pra eu ficar sabendo o que falam de mim tenho que ouvir dos outros, “Somos safados. Somos safados pois gostamos de sexo”. E modéstia a parte levamos o buteco abaixo! Uma galera empolgada e interessada não só no Pé sujus mas em todas as bandas agitava e cantava sem parar. Uma ótima apresentação regada á cerveja geladinha – gentileza dos irmãozinhos da banda esgoto.

Em seguida, a banda Jhaspion assume a vez de fazer barulho e isso fizeram mais uma vez muito bem. No início a galera não estava muito empolgada para interagir com a banda, talvez por não conhecer a banda. Mas o repertório foi avançando e no final uma grande roda de pogo era ditada pela banda que descarregava ali seu crossover do diabo pra cima daquelas cabecinhas endiabradas de moicano erguido com sabão, jaqueta com rebite enferrujado e patchs feitos a mão.

Terceira banda a tocar, mais uma vez de novo novamente again, Invasores de Cérebros! (O blog terá que presentear esse véinho punk,ops, Ariel, pelo número de participações em posts nesta budega. E como não poderia deixar de ser, fizeram uma ótima apresentação, oportunidade de ver de graça um dos grandes clássicos do Punk Nacional, e que diferente de muita banda “antiga” e “de nome”, não negam a raiz e tocam mesmo na periferia sem dó e sem encheção de saco de aparelhagem valvulada e toalhas brancas no camarim. Esta sim, uma verdadeira banda punk que é sempre presente neste blog por sempre estar fazendo parte dos melhores momentos do Punk rock nesta cidade.

Quarta e última banda, a esgoto mandou ver um extenso repertório de mais de uma hora, aproveitando que ainda tinha muitíssimo chão até os ônibus começarem a rodar. E cada hino que era tocado (esgoto não tem musicas, tem hinos!) eu me empolgava mais. Era meio que um backing vocal em off da banda, toda hora indo pentelhar no microfone do baixista neno. É uma banda que me orgulho pela simplicidade, crueza e letras ótimas, além da atitude ser de cada vez mais humildade em cada ano que passa, e olha que já são 23 anos de luta! Fez o povo pogar, cantar, participar e beber (“circulação alcoólica, um dos seus clássicos, instiga nosso cérebro a procurar por uma cachacinha para ilustrar nossas balbuciações de acompanhamento da letra). Simplesmente sensacional!

Saldo Final: A banda insight (cover do Dead Kennedys) não compareceu. Uma pena. Não teve briga, só um principio de discussão motivado por um punk ter lavado as mãos no banheiro com a porta aberta(!) e ter desagradado os locais. O problema é que o punk ao invés de só pedir desculpas pelo “ocorrido” resolveu estufar o peito e esquecer onde estava pisando, com o argumento de não “baixar a cabeça pra ninguém”. Sorte que tão besta começou a discussão, tão rápido acabou a mesma. E o evento teve apoio do projeto “Estudio Garagem”, projeto vencedor do VAI na região. Descolaram uma verba para investir em cultura na região, podendo os locais contarem com vários shows com a aparelhagem comprada com o incentivo em vários locais da região em breve, além de uma coletânea das bandas locais apresentando seu trabalho para o mundo. Finalmente o Punk conseguiu arrancar um pouco de dinheiro desses malditos donos do poder. Aliás, pensando bem, esse dinheiro é NOSSO! Vem dos nossos impostos, e esta iniciativa não é mais que obrigação da prefeitura, que deveria sim expandir cada vez mais e mais. É uma forma do povo se organizar e ele mesmo fazer cultura com a cara dele, do jeito que ele gosta. Parabéns á Tatiana, que encabeça o projeto e fará muita coisa legal. Além disso, não satisfeita, Ela ainda toca na Banda Útero Punk e tem um programa na rádio Cantareira FM, o “Mina Rock”, aos sábados das 16 ás 18 hs (quem é da região pode dar uma prestigiada no programa, ao vivo). São pessoas assim que ajudam a fortalecer cada vez mais a cena.

Só nos restou então puxar o carro e subir a ladeira em direção ao ponto de ônibus mais temido pelas empresas de ônibus, aos domingos de manhã: Aquele ponto cheio de punks, no qual 3 pagam e 27 passam por baixo. Tradição desde 2005, nas voltas do Bar do Fubá. Coisas de punk...

2 comentários:

  1. Olá, estou finalmente editando um video que filmei entre 2003 e 2005 sobre ser punk em SP (tem uma estrutura histórica mas não foi este meu objetivo, é mais sobre ser Brasileiro, ser punk, como sobrevive-se com estas escolhas, etc.). Tenho muito material, inclusive do Caminhão do Tonhão. Queria descrever aonde fica--mas não me lembro mais.. Poderia me ajudar? Agradecida! Carolina

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  2. Então Carolina, O Caminhão do Tonhão ficava na rua Manoel Aquilino Dos Santos, No Jd. Eliza Maria em São Paulo.

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